O grupo
Legião Urbana foi formado em Brasília em 1982 e
sua última formação acabou sendo Dado
Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo (cujo
nome de nascença é Renato Manfredini Júnior. O
"Russo" foi adicionado em homenagem ao
iluminista suíço Jean-Jacques Rousseau, ao filósofo
inglês Bertrand Russel e ao pintor francês Henri
Rousseau).
Até então
cultor de medalhões como Led Zeppelin e Pink
Floyd, o baixista Renato Russo descobriu o punk
rock em 1977, aos 17 anos, quando outro professor
da Cultura Inglesa, um escocês chamado Iain,
voltou da Grã-Bretanha falando de "uns
tais" Sex Pistols. No ano seguinte, em um dia
qualquer, Renato Russo estava na Taberna (um bar
em Brasília) e veio descendo um punk, um Sid
Vicious loiro, como Renato dizia. Era André Pretórius,
filho do embaixador sul-africano no Brasil. Renato
chegou nele e a primeira coisa que falou foi:
"Você gosta de Sex Pistols?" E ele:
"Sex Pistols! Yeah! Jóia!" E começaram
a trocar informações. Nisto Renato, baixista,
fundou o Aborto Elétrico junto com André, o
guitarrista e também com Felipe Lemos, baterista.
Eles passavam várias tardes ensaiando as músicas
de Ramones, Sex Pistols e Slaughter and the Dogs
até a primeira apresentação, em 1980, em um bar
chamado "Só Cana". O Aborto Elétrico
acabou se tornando o embrião tanto da Legião
Urbana (de Renato) quanto do Capital Inicial (de
Felipe), junto com o Plebe Rude (de André Müller),
a santíssima trindade do rock brasiliense dos
anos 80.
A Legião
Urbana surgiu após a separação do Aborto, que
ainda teve como componentes Ico-Ouro Preto e Flávio
Lemos (também Capital Inicial). Esse grupo - rápido
e barulhento, fortemente influenciado pelos
Stooges e pelos Sex Pistols - sofreu com o
entra-e-sai dos seus integrantes e, por isso,
nunca chegou a um disco próprio. Contudo, algumas
de suas canções foram posteriormente gravadas
pela Legião (como Geração Coca-Cola e Conexão
Amazônica) e pelo Capital (Veraneio Vascaína e Fátima).
O público da banda era relativamente grande,
principalmente na parte dos jovens estudantes. Porém
André Pretorius teve de servir o exército da África
do Sul, naquela época envolvido na manutenção
do regime de apartheid após ter feito um único
show com o grupo. Assim então entrava na banda Flávio
Lemos para tocar baixo, com Renato assumindo a
guitarra deixada por Pretórius. Este voltaria
ainda em 1980 para umas férias em Brasília
participando dos ensaios cruciais das músicas
supra-citadas neste parágrafo. Sua vida teve fim
em 1985 ao morrer vítima de uma overdose nos
Estados Unidos. Voltando para a história do
Aborto, este viveria seu auge no ano de 1981,
fazendo diversos shows com outras bandas, e
tocando também em um sem número de festas, colégios,
etc.. No meio deste ano, Ico-Ouro Preto entraria
para assumir a guitarra, deixando Renato livre
apenas para os vocais. Entretanto, o grupo
acabaria definitivamente por causa de uma briga
relacionada à música Química entre Renato e
Felipe, em março de 1982. O clima já estava ruim
entre eles, mas aquilo para Renato, que já
sonhava em gravar um disco enquanto Felipe
preferia o amadorismo, foi a gota d'água.
Foi nessa
época que Renato, então estudante de Jornalismo
na UnB, transformou-se. Era agora "O Trovador
Solitário" que, sozinho ao violão,
interpretava composições próprias, como Eduardo
e Mônica e Química. Curiosamente foi uma fita
dessa fase que chegou aos ouvidos do então
diretor-artístico da EMI-Odeon, Jorge Davidson,
que durante algum tempo julgou ter nas mãos um
grupo folk. Ao mesmo tempo dessa fase, Renato foi
contratado por uma rádio de Brasília para
comandar um programa de jazz. Só que ele não
podia ver um microfone em sua frente. Entre uma música
e outra, descarregava sua metralhadora verbal,
contando histórias sobre a dependência de drogas
e Chet Baker e outras amenidades no programa que
pretendia servir de fundo musical ao almoço da
elite brasiliense. Os produtores da rádio
tentaram, então colocá-lo para dirigir um
programa sobre os Beatles. Um pouco mais de um ano
depois, Renato alugou uma sala no edifício Brasília
Rádio Center para tocar um novo projeto com o
baterista Marcelo Bonfá. A eles se juntaram o
tecladista Paulo Paulista e o guitarrista Eduardo
Paraná. Este, no entanto, tinha um defeito grave
para uma banda que, embora quisesse distância da
zoeira, ainda estava imbuída do espírito punk:
Paraná solava demais. "E nos éramos
contra", lembrava Renato. Ico Ouro-Preto o
substituiu, assumindo a guitarra por um certo
tempo, mas acabou abandonando o grupo, em abril de
1983, às vésperas de um importante show agendado
no auditório da Associação Brasileira de
Odontologia. Dado Villa-Lobos foi convocado às
pressas para segurar a guitarra. Aprendeu nove músicas
em duas semanas e fez o show. Foi como um trio -
Renato, Bonfá e Dado - que se cristalizou a formação
da Legião Urbana.
A Legião
tornou-se conhecida mesmo quando começou a tocar
fora de Brasília participando de shows como os do
Circo Voador no Rio de Janeiro na noite de 23 de
julho, que também contou com Lobão e Capital
Inicial. Suas primeiras canções eram, como já
foi falado, em sua grande parte, herdadas do
Aborto, tais como: Que País é Este (que abria
quase todas as apresentações do grupo), Conexão
Amazônica, Geração Coca-Cola, Ainda é Cedo,
Veraneio Vascaína, Química, etc..
Fato
curioso dessa época, é que pouca gente sabia
ainda que os versos de Química, que Herbert
Vianna se esgoelava para cantar em Cinema Mudo
acompanhado pelos vestibulandos de então, tinham
já a marca de Renato Russo.
1.LEGIÃO
URBANA
Em 1984,
entra Renato Rocha (que integrava "CIA e dos
Dentes Kentes"), vulgo Billy, vulgo Negrete
no baixo. Mas por que essa entrada repentina de
Rocha se já havia um baixista para o grupo?
Porque Renato Russo queria ficar mais livre para
cantar e porque ferimentos nos pulsos, causados
por uma tentativa de suicídio, lhe haviam tirado
parte dos movimentos das mãos. O grupo,
apadrinhado pelos também brasilienses Paralamas
do Sucesso (já que Renato, quando conseguiu o
emprego de programador de uma rádio FM, conheceu
o grupo, iniciando-se uma grande amizade), assina
com a gravadora EMI-Odeon. "Legião
Urbana", o disco, produzido pelo jornalista
José Emílio Rondeau, foi lançado às vésperas
do primeiro Rock in Rio, no dia 1º de janeiro de
1985, mesmo com uma certa má vontade da gravadora
em divulgar o próprio produto e uma desconfiança
de que a banda era somente uma aproveitadora do
sucesso dos Paralamas. É estranho pensar hoje,
doze anos depois, que o Rock in Rio I teve a
presença de Rita Lee, Erasmo Carlos e não contou
com a da Legião. Naquela época, porém, a Legião
ainda não vingara. Muito pelo contrário, aliás,
o próprio festival congelara o disco "Legião
Urbana" por uns bons seis meses (o disco
ficou hibernando nas lojas por este tempo todo),
quando finalmente começou a tocar nas rádios
quase faixa a faixa. O Rock in Rio, de uma maneira
ou de outra, também ajudou a catapultá-lo
depois. Foi no embalo do festival que Será
invadiu as rádios. Essa música foi seguida por
Teorema que foi seguida por Ainda é Cedo que foi
seguida por Soldados, sem se esquecer ainda de
Geração Coca-Cola e da belíssima Por Enquanto.
Na época Renato duvidava de que pudesse alcançar
o sucesso: "Acho que a Legião nunca vai ser
a banda mais popular do Brasil por causa do que a
gente fala". Mesmo assim o sucesso era notório,
e o álbum acabou sendo eleito o melhor do ano
pela revista BIZZ, que também apontou a Legião
como a melhor banda, dona do melhor vocalista e
compositora de melhor música: "Será".
Quando a Legião saiu do estúdio, depois de um
ano e meio, com o primoroso "DOIS", para
muitos o melhor disco do rock nacional, as rádios
ainda não tinham esgotado o primeiro LP (que
vendeu até hoje uma base de 550 mil cópias,
aproximadamente), com as músicas ainda estando no
ar. "DOIS", por sua vez, foi
intensamente explorado e representou o salto da
Legião, e de Renato, para o mega-estrelato.
Será, a
primeira canção do disco, começa com os
seguintes versos: "Tire suas mãos de mim/Eu
não pertenço a você". Parecia uma declaração
de príncipios punks, autoritária e arrogante,
onde o grito de independência pressupõe o corte
de todos os laços (afetivo e de qualquer tipo)
com o mundo ao redor e com as pessoas que vivem
nesse mundo. Mas Será é antes de tudo uma canção
romântica (não foi por acaso que fez sucesso na
voz de Simone e no ritmo de pagode-swing do Raça
Negra). O sentimento predominante na música, e
nas demais faixas do primeiro disco da Legião
Urbana, não é a revolta, mas sim o desamparo
("Quem é que vai nos proteger?") e a
necessidade urgente da criação de uma nova
comunidade, sem depender de ninguém, já que
ninguém nos protege.
Essa
proposta (assim mesmo desesperada e desamparada)
utópica da Legião parece algo meio descrente de
seus princípios, ou da existência de alguma solução
para qualquer problema. Solução? Em Teorema a própria
idéia de solução é colocada em suspenso:
"Não sabemos se isso é problema/Ou se é a
solução". Tudo é, por princípio, motivo
para dúvida: "Se eu soubesse lhe dizer qual
é a sua tribo/Também saberia qual é a
minha" (Petróleo do Futuro); "Vivemos
num planeta perdido como nós/Quem sabe ainda
estamos a salvo" (Perdidos no Espaço);
"Qual é a diferença?" (Baader-Meinhof
Blues); "Quem é o inimigo?" (Soldados);
Eu não sei mais o que/Eu sinto por você"
(Ainda é Cedo).
Não era
possível perceber, a partir desse disco de estréia
quais seriam os próximos passos musicais da
banda. Muitos pontos de vista musicais convivem em
cada faixa. Muitas vozes conflitantes cantam cada
letra. A Legião Urbana inaugura nesse disco todos
os procedimentos poéticos que serão
desenvolvidos nos próximos lançamentos. Muitas
vezes quem canta é uma personagem, que pode citar
(veja as letras impressas no encarte e conte o número
de aspas e travessões) outras personagens. Outras
vezes são contadas histórias (como em O Reggae)
sem que se saiba quem está no comando da
narrativa. Não existe uma visão de mundo
privilegiada, não existe ideologia única, não
existe futuro para quem não acredita em futuro,
como a visão punk. Mas nada disso fica totalmente
claro. Até porque a última canção do disco
coloca tudo, mais uma vez, em suspenso, tudo
parece provisório, tudo parece estar aqui apenas
Por Enquanto. O disco termina com uma declaração
no mínimo inesperada: "Estamos indo de volta
pra casa".
3. DOIS
Em 1985
começavam os esboços do álbum "DOIS"
que deveria se chamar "Mitologia e Intuição"
e ser um álbum duplo. Mas a gravadora EMI-Odeon
recusou-se a realizar tal projeto, acabando por
lançar apenas um álbum simples. Ironia do
destino, este álbum acabou sendo o de maior
vendagem do grupo, atingindo na época 800 mil cópias
vendidas facilmente, e até os dias atuais
atingindo a marca de 1,1 milhão de cópias
vendidas, com sucessos como "Índios",
Tempo Perdido, Andrea Doria, Quase sem Querer,
Eduardo e Mônica e Acrilic on Canvas. Todas elas
saíram do vinil direto para o imaginário daquela
juventude pós-ditadura que começava a entrar nas
universidades. Mesmo com isso, o vocalista
descartou a mitificação em torno do grupo:
"Somos apenas quatro amigos que gostam de
estar juntos", dizia ele. Renato com esse
disco também começava a ensaiar seu adeus ao
mundo público, que seria sacramentado anos mais
tarde no quarto disco da banda: "As Quatro
Estações"
O disco
começa com uma colagem sonora onde se escuta, em
meio a outros ruídos e outras músicas como o
hino da Rússia, o seguinte trecho de Será:
"Brigar pra quê/Se é sem querer". Mas
parece que alguma coisa mudou, que as perguntas (e
talvez a ausência de respostas) não incomodam
tanto, que foi descoberta uma maneira de se
conviver - pacificamente - com a perplexidade:
"Ainda estou confuso/Só que agora é
diferente/Estou tão tranqüilo e tão
contente" (Quase Sem Querer). Parece que foi
encontrado um antídoto contra a maldade e o erro,
quase como se a resposta procurada fosse a resignação:
"Nada mais vai me ferir/É que eu já me
acostumei/Com a estrada errada que segui/E com a
minha própria lei" (Andrea Doria).
Mas a
resignação não é tudo. Em "DOIS"
torna-se mais clara uma outra faceta inesperada,
principalmente levando-se em conta sua origem
punk, da Legião: uma "vontade" de
religião e piedade. Em Baader-Meinhof Blues, do
primeiro disco, já aparece um vestígio de
sentimento cristão: critica-se uma sociedade para
a qual "amar ao próximo é demodé".
Mas em "DOIS" o que estava submerso em
metáforas e ironias vem à tona: sua primeira
faixa, logo a mais, digamos,
"explicitamente" sexual, tem um título
bíblico: Daniel na Cova dos Leões. Em Fábrica,
logo a mais punk (colocando-se de lado a indignação
de Metrópole), a Legião canta: "Nosso dia
vai chegar" e "Quero justiça". O
canto não deve ser tomado ao pé da letra. A Legião
Urbana canta, mas o que é cantado não expressa
necessariamente o pensamento da Legião Urbana. O
eu de cada canção nem sempre pode ser confundido
com o pensamento da Legião Urbana. Em Fábrica,
pode estar cantando um operário. Acrilic on
Canvas‚ um diálogo entre duas (ou mais?)
pessoas que não sabemos quem são. Eduardo e Mônica,
composição mais antiga, é uma narrativa de uma
história com começo, meio e fim. O ouvinte fica
sem saber da opinião do cantor sobre aquilo que
canta. Nada‚ obviamente partidário ou panfletário.
Por tudo
isso, a Legião nesse tempo já tinha seu espaço
reservado no rock nacional. Seus shows eram
famosos pela postura considerada messiânica de
Renato e por um comportamento totalmente anti-pop.
Não abriam shows para ninguém e não permitiam
baderna de espécie alguma durante os seus shows.
Há porém uma mancha nesse período de sucesso do
Legião. Um show no ginásio poliesportivo de Brasília,
o Nilson Nelson, em dezembro de 1986, terminou com
uma menina morta e outras 20 pessoas feridas.
Depois desse show, a Legião passou quase dois
anos em auto exílio, sem tocar em Brasília. Mais
tarde, Renato Russo desejaria que esses dois anos
tivessem sido 100 anos.
1.
QUE PAÍS ESTE
- 1978/1987
Após o álbum
"DOIS", a Legião quase terminou. Dado
pensou em fazer prova para o Instituto Rio Branco,
Bonfá pensou em ir pegar onda na Austrália e
Negrete ficou na dele, como sempre. Passada a fase
mais difícil, iniciaram a gravação do álbum
"Que País É Este - 1978/1987", em
novembro de 1987, utilizando o material que
deveria ser utilizado na realização do que seria
o "Mitologia e Intuição". O álbum,
que vendeu 930 mil cópias, fez um grande sucesso
por ser um disco bastante crítico e inovador. Ele
contava com várias músicas do tempo do Aborto Elétrico
(que já estavam sendo distribuídas em fitas
piratas entre os fãs legionários), como Que País
é Este, Tédio (Com um T Bem Grande pra Você) e
Conexão Amazônica, e outras novas, como Angra
dos Reis e Mais do Mesmo (que inicialmente daria título
a coletânea). É interessante escutar os discos
na ordem em que foram lançados, ouvindo as
composições do Aborto Elétrico depois de Tempo
Perdido ou "Índios". No começo punk
predominavam as letras na primeira pessoa. Com o
passar do tempo, o eu foi dando lugar ao você. A
ironia foi dando lugar a algo parecido com
sinceridade. A irritabilidade foi se transformando
em tranqüilidade. A negação de tudo cedeu lugar
a uma afirmação trágica do mundo. A grande
vedete desse disco, no entanto, foi a mais improvável
de todas: Faroeste Caboclo, uma música de pouco
mais de nove minutos de duração, um dos maiores
sucessos radiofônicos dos anos 80, contra todas
as previsões das cartilhas das gravadoras, que
sozinha consumiu quase metade do tempo de gravação
de "Que País é Este". Mesmo demorando
tanto para gravar, a música foi composta
rapidamente. "Escrevi a música toda em duas
tardes sem mudar uma vírgula... ‘Não tinha
medo o tal João do Santo Cristo...’ e foi
embora", dizia Renato Russo numa entrevista a
Leoni (ex-Kid Abelha). Escrita em 1979, na época
do Aborto, sua quilométrica letra - 159 versos! -
narrava a paixão e morte de um certo João do
Santo Cristo, misto de traficante e homem santo
(uma espécie de Brasil personificado). Esta saga
começava como música sertaneja, passava pelo
reggae e terminava punk rock. O sucesso dela
surpreendeu o compositor: "Acho que as
pessoas se indentificaram com o personagem".
Este 3º álbum rendeu à banda a consolidação
no cenário do rock nacional, mas também trouxe a
banda complicações como um novo tumulto em um
outro show em Brasília, na noite fria do dia 18
de junho de 1988.
Esperava-se
muito deste show. E muito veio, mas não da
maneira desejada. A produção local, da firma
Agora Eles, não foi capaz de aquilatar a relação
de amor e ódio que unia a Legião a Brasília.
Montou um pífio esquema de segurança e um palco
baixíssimo, quase na altura do gramado.
Resultado: os tumultos ocorridos diante do palco
acabaram atingindo a banda, seja na forma de
bombinhas, seja na pessoa de um doente mental que,
patética mas perigosamente, se agarrou ao pescoço
de Renato, sendo brutalmente expulso. O quarteto
até tentou continuar tocando, mas teve que
desistir e saiu de cena, agitando mais ainda a
platéia de mais de 50 mil pessoas presentes no
estádio Mané Garrincha. A batalha campal que se
seguiu, envolvendo a polícia montada e bombas de
gás lacrimogêneo, desenvolveu num quebra-quebra
pela cidade e deixou um saldo de 60 pessoas
detidas, 385 atendidas pelo serviço médico e 64
ônibus depredados. Por tudo isso, o grupo, e
sobretudo Renato, foi acusado de incitamento à
baderna. Enquanto isso no camarim o baterista Bonfá
e o baixista Renato Rocha - esse normalmente muito
calmo - choravam enquanto Renato Russo gritava
"não vim aqui para dar um show para um bando
de animais!". Nunca mais a Legião voltou a
tocar em Brasília.
5. AS
QUATRO ESTAÇÕES
Ainda no
ano de 1988, ao final da turnê do terceiro LP
"Que País é Este", Renato Rocha deixa
o grupo (mais tarde, em 1994, durante uma
entrevista no programa "Passado, Presente e
Futuro" da MTV Brasil, Bonfá, lacônico a
respeito do assunto, argumentaria apenas que
Negrete "era muito louco". Já Dado
Villa-Lobos seria incisivo: "Os atrasos,
perdas de vôos e falta nos ensaios estavam
prejudicando o desempenho da banda",
revelaria o guitarrista). Russo e Dado então,
revezam-se no baixo na gravação do LP "As
Quatro Estações", lançado em outubro de
1989. Este álbum iniciou uma nova fase para a
banda. Deixada de lado a fúria do disco anterior,
este álbum era mais ligado à assuntos
espirituais e sentimentais. A religiosidade, no
sentido mais amplo dessa palavra, toma conta de
todas as faixas. Renato Russo explicava:
"Acho que a única solução hoje é
espiritual". Há Tempos, a primeira canção,
dá o tom para o resto do disco: "Disciplina
é liberdade/Compaixão é fortaleza/ Ter bondade
é ter coragem". A irônica rebeldia punk
cede lugar para uma dolorosa busca da mais
perfeita, agora sim, sinceridade.
Tudo ainda
parte da melancolia: "Há tempos o encanto
está ausente" (Há Tempos); "Até bem
pouco tempo atrás/Poderíamos mudar o mundo"
(Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto);
"Meu coração é tão tosco/E tão pobre, não
sabe ainda/Os caminhos do mundo" (Sete
Cidades). A conquista da ética, da tranqüilidade
e do amor‚ feita não com a derrota do mal, mas
apesar do mal, como numa profissão de fé
desesperada. Determina-se: "De hoje em
diante,/Todo o dia vai ser o dia mais
importante" (Eu Era Um Lobisomem Juvenil). E
revogam-se todas as disposições em contrário.
É tudo uma questão de vontade: "O Brasil é
o país do futuro/Eu quero tudo pra cima"
(1965 (Duas Tribos)). O disco ainda fala de temas
como a AIDS (Feedback Song for a Dying Friend) e
homossexualismo (Meninos e Meninas), mas sem
deixar a crítica de lado como em 1965 (Duas
Tribos). "As Quatro Estações" é um
pequeno tratado sobre virtude, é um manual de
como ser virtuoso depois do punk, quando já não
se acredita em nada. A Legião Urbana canta a
lealdade, a nobreza, o carinho, a amizade. Mas
canta sobre tudo o amor, a mais
"encantadora" das virtudes. Pois:
"Quando se aprende a amar/O mundo passa a ser
seu" (Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar);
"Sem amor eu nada seria/Só o amor conhece o
que é verdade" (Monte Castelo). A ausência
de sentido, a imperfeição do mundo, o "no
future" não impede o amor: "É preciso
amar as pessoas/Como se não houvesse amanhã"
(Pais e Filhos). Com tudo isso, "As Quatro
Estações" vendeu como água. De cara, foram
450 mil cópias, tiragem que dobraria anos depois
e hoje chega a marca de 1,4 milhão, a maior
vendagem da carreira da Legião. O fato do grande
número de vendas no início surpreendeu o grupo,
já que nenhuma das músicas tinha qualquer
característica pop.
A partir
desse disco, e dos já citados incidentes em Brasília,
em 1988, o grupo começou a se afastar dos palcos.
Em 1990, no mesmo dia da morte de Cazuza (7 de
julho), eles deram talvez seu show mais memorável,
no areal do Jockey Club Brasileiro.
Por fim,
este disco marcou uma virada na vida de Renato. Em
junho de 1990, o vocalista assumiu pela primeira
vez o seu homessexualismo em entrevista à revista
Bizz. "Eu estava precisando me assumir há
muito tempo", diria ele. "É muito difícil
viver numa sociedade em que você é um pária".
6. V
Para quem
esperava a bem-aventurança pacífica, ou passagem
imediata para o paraíso, depois da eterna mudança
de "As Quatro Estações", o álbum
"V" deve ter sido uma surpresa (à
primeira vista, pelo menos) muito estranha. Lançado
em dezembro de 1991, e vendendo até hoje 600 mil
cópias, este é o álbum mais triste, e talvez
por isso mesmo o mais belo, da Legião Urbana.
Apesar da temática mais pessimista e temas como
drogas (A Montanha Mágica) e a situação difícil
das pessoas no Brasil (O Teatro dos Vampiros), não
é um disco sobre a morte, nem mesmo sobre perda,
é mais uma apologia da serenidade que se tem
quando se descobre a beleza no barulho da
realidade ("V" é o disco menos
barulhento da Legião), é - para usar um
lugar-comum - um disco do inevitável
amadurecimento. Tanto que "V" tem uma música,
um rock progressivo, chamado Sereníssima. Não é
certamente o caminho mais fácil, nem o mais
seguro, para a serenidade: "Consegui meu
equilíbrio/Cortejando a insanidade". Tal
equilíbrio só pode ser instável, um estado onde
"o caos segue em frente/Com toda a calma do
mundo". Mais do que isso: um estado que não
tem nenhum futuro assegurado: "A felicidade
mora aqui comigo/Até segunda ordem" (A
Montanha Mágica). A Legião Urbana continua a
trilhar seu caminho sagrado pelo mundo profano do
pop. Agora as imagens são mais guerreiras: o Buda
de "As Quatro Estações" reaparece,
como um cruzado alquimista, "sem sela e
espada", de Metal Contra as Nuvens. Uma faixa
instrumental se chama A Ordem dos Templários. E o
disco abre com uma cantiga amorosa do século XII.
Segundo Renato, existiam várias leituras possíveis
para o disco: "Quero que me digam o que
entenderam". Sobre a turnê desse álbum,
dizemos que ela acabou sendo interrompida em
setembro de 1992 por complicações de saúde de
Russo. Ele vivia um período difícil como
contaria mais tarde: "Cancelamos shows porque
eu estava bebendo de cair, com tendência
suicidas". De acordo com o vocalista, seu
envolvimento com álcool e drogas havia começado
aos 17 anos. "Experimentei tudo, mas sempre
terminava em álcool e tranquilizantes". Mas
alertava os fãs: "Não quero que sigam meu
exemplo". Após um dos últimos shows dessa
época, Dado achava que jamais subiria novamente
num palco ao lado de Renato e de Bonfá.
7. MÚSICA
PARA ACAMPAMENTOS
Por pressão
da gravadora, no ano seguinte ao álbum
"V", o grupo lança "Música para
Acampamentos", uma coletânea dupla do
trabalho ao vivo deles com versões de músicas
apresentadas em shows e especiais de rádio e TV
que, porém, não deixou a banda satisfeita com o
resultado. Foi o disco do grupo que menos vendeu,
270 mil cópias. As músicas que entraram neste álbum
foram: Disco 1 - Fábrica / Daniel na Cova dos Leões
/ A Canção do Senhor da Guerra (a única música
inédita do álbum) / O Teatro dos Vampiros /
Ainda é Cedo / Gimme Shelter (Mick Jagger / Keith
Richards) / Baader-Meinhof Blues / A Montanha Mágica
/ You’ve Lost That Lovin’ Feelin’ (Barry
Mann / Cynthia Weil / Phil Spector) / Jealous Guy
(John Lennon) / Ticket To Ride (John Lennon / Paul
McCartney) / Eu Sei / "Índios". Disco 2
- A Dança / Mais do Mesmo / Soldados / Blues da
Piedade (Frejat / Cazuza) / Faz Parte do Meu Show
(Renato Ladeira / Cazuza) / Nascente(Flávio
Venturini / Murilo Antunes) / Música Urbana 2 /
On the Way Home (Neil Young) / Maurício / Há
Tempos / Pais e Filhos / Stand By Me (King /
Leiber / Stoller) / Faroeste Caboclo / Exit Music:
Rhapsody in Blue (George Gershwin).
Nessa época,
Renato se internou numa clínica de apoio a
drogados e, por um tempo, abandonou o álcool e a
cocaína.
8. O
DESCOBRIMENTO DO BRASIL
Em novembro
de 1993, é lançado o álbum "O
Descobrimento do Brasil", vendendo 430 mil cópias
até hoje. Não se trata, como poderia ser
esperado de um disco lançado naquela época,
quando aparecem bandas como Raimundos e Chico
Science & Nação Zumbi, de uma retomada das
"raízes" nacionais. O descobrimento do
Brasil é um mergulho na história da própria
Legião Urbana, e - para usar mais um lugar-comum
- o encerramento de um ciclo. É como se a
serenidade da Legião Urbana de "V"
fizesse as pazes com o desequilíbrio punk do
Aborto Elétrico. Era uma volta ao pop com músicas
mais simples. "É um disco mais leve",
diria Renato Russo. "Fala da valorização da
família sem ser careta". Perfeição, a
primeira música de trabalho desse disco, prova
que tal pacificação é possível. A indignação
e a auto-ironia punk da primeira parte dessa canção
terminam com um hino de confiança no futuro:
"Venha, que o que vem é perfeição". A
música é uma das melhores demonstrações do
Renato Russo político existente.
De onde vem
essa convicção? Como passamos a ter um futuro (e
uma História) assim tão de repente? A Legião
Urbana dá uma resposta óbvia: "O
fim-do-mundo já passou" (Vamos Fazer um
Filme). Mas do ponto de vista pessoal , o mundo
continua, e o mundo tem futuro, pois essa é a única
maneira de continuar a viver: "E você diz
que tudo terminou / Mas qualquer um pode ver: / Só
terminou pra você" (Os Barcos). Sendo assim,
nada está perdido e continuamos a ter todo o
tempo do mundo. Nesse novo "nosso próprio
tempo" a Legião Urbana nos dá a única
receita para viver nossas vidas: imaginar tudo
como se fosse "um musical dos anos 30"
(Vamos Fazer um Filme) no meio da Grande Depressão.
E quem disse que não dá pra ser feliz no meio da
Grande Depressão? E quem disse que sem Deus tudo
é permitido? A Legião Urbana canta: "Eu não
sei nada e continuo limpo" (A Fonte). E
acrescenta, como numa atualização (depois de
todo esse "tempo") de Será: "Sai
de mim / Que eu não quero mais saber de você",
isso porque "Só estou aberto a quem sempre
foi do Bem" (Do Espírito).
O ciclo
termina com uma crença inabalável: "Meu espírito
/ Ninguém vai conseguir quebrar" (Um Dia
Perfeito). A última palavra de O Descobrimento do
Brasil é YEAH, gritado, virtuosamente punk. Isso
mostra claramente que com esse álbum, o grupo
buscava mais a esperança, embora todas as músicas
falassem sobre despedida. As letras mostram um
Renato "refeito" pois, nessa época, ele
já tinha iniciado seu tratamento, já citado
anteriormente, contra a dependência química.
9. A
TEMPESTADE (OU O LIVRO DOS DIAS)
Após quase
1 ano e meio sem gravar, a Legião iniciava o seu
novo trabalho. Segundo Dado, tratava-se de um álbum
duplo, com um pouco de tudo, baladas, rock,
incluindo algumas canções citadas no encarte do
terceiro álbum e que não entraram em nenhum dos
discos. O álbum tinha lançamento previsto para o
final de setembro, mas ainda não tinha nome.
Durante
esse tempo que passou sem gravar com a Legião,
Renato Russo lançou dois projetos solos. Um
deles, chamado "The Stonewall Celebration
Concert" contem 21 músicas em inglês,
compostas por Bob Dylan, Madonna e Billy Joel
entre outros. Renato Russo gravou esse disco para
a campanha do sociólogo Herbert De Souza, o
Betinho. Endereços de várias ONG’s (Organizações
Não Governamentais), desde o Greenpeace até
organizações contra a AIDS, foram incluídos no
encarte do CD. Renato também gravou um disco em
italiano, chamado "Equilibrio Distante".
Incluindo canções como La Solitudine, La Forza
Della Vita e Wave (Como Fa’ Un Onda), o disco
foi um sucesso de vendas surpreendente, com mais
de 300 mil cópias vendidas. A música Strani
Amori foi muito bem executada pelas rádios, e o
clip da mesma música concorreu no Video Music
Awards Brasil, promovido pela MTV, no ano de 1996.
Nessa época, os rumores dizendo que o cantor era
portador do vírus da AIDS começaram a ficar mais
freqüentes. E Renato Russo começou a ficar cada
vez mais recluso.
Finalmente,
em 21 de setembro de 1996, sai o último álbum da
banda feito em vida de Renato, que já vendeu mais
de 800 mil cópias até o momento: "A
Tempestade" (ou "O Livro Dos
Dias"). A idéia do álbum duplo teve de ser
abandonada por motivos comerciais. Mesmo assim, após
3 anos sem gravar, o álbum era mais do que
esperado. A música de trabalho A Via Láctea traçava
uma idéia de como seria o álbum, melancólico,
onde Renato insinuava que algo estava errado. Foi
veiculada nas rádios a partir de 29 de agosto e
era bem recebida pelo público. A Legião parecia
então, caminhar em direção a mais um sucesso,
mas a sua história seria interrompida
abruptamente. Um choque para os fãs, que não
sabiam de uma parte da história. Uma parte meio
obscura. Voltando ao tempo... No início de 1996,
Renato Russo entrou em crise depressiva profunda,
fato que provocou várias vezes a interrupção
dos trabalhos de gravação do disco, que duraram
cerca de 6 meses. Neste trabalho, não aparecem
agradecimentos, nem a frase em latim presente em
quase todos os álbuns "URBANA LEGIO OMNIA
VINCIT" ("A LEGIÃO URBANA A TUDO
VENCE"). Renato recusou-se a tirar fotos para
este álbum e fez dele uma carta de despedida aos
fãs. Após as gravações, em junho de 96, Renato
se isola em seu apartamento no bairro de Ipanema,
no Rio de Janeiro, muito abalado fisicamente por
causa de uma forte pneumonia. Como andava também
deprimido, o vírus HIV acabava destruindo suas
defesas. Nas últimas semanas já recusava-se a
comer e a sair do quarto. Renato era soropositivo
desde 1989. O roqueiro, que jamais veio a público
revelar que tinha AIDS, mas que nunca escondeu que
talvez pudesse ser portador do vírus vem a
falecer. Na madrugada de 11 de outubro de 1996,
quando o relógio marcava 1:15, a AIDS através de
uma insuficiência pulmonar e de uma anemia aguda
levava mais um grande poeta dos anos 80. Segundo a
mãe do cantor, Maria do Carmo Manfredini, o nome
de seu último álbum revela bem o estado de espírito
de Renato pouco antes de sua morte. Ele dizia que
queria muito fazer deste álbum algo muito
especial, pois não sabia se faria outro.
"Este nome foi escolhido porque havia uma
tempestade dentro dele. Ele quis chegar ao fim.
Ele não se suicidou, mas simplesmente não
lutou", declarou.
A morte do
vocalista deixou um vazio na cena pop rock. Em uma
terra sem tradição no rock'n'roll, Renato era um
verdadeiro astro do rock, que seguia os passos de
Jim Morrison, dos Doors, e Morrissey, dos Smiths.
Em comum, um carisma inegável, talento para
compor letras inesquecíveis e um poder assustador
sobre o público. Ao vivo, a banda superava
qualquer outra atração do rock brasileiro.
Havia, é claro, a competência de Dado e Marcelo,
precisos em seus instrumentos. Mas era Renato quem
levava o público à loucura com suas frases
ternas ou agressivas, sua dança hipnótica ou
seus gestos inesperados (comer flores no palco,
por exemplo). Tamanha adoração confundia Renato
Russo. "Isso vem do público", dizia
ele. "Nunca quis dizer para as pessoas o que
fazer". Comparado a Sid Vicious, Ian Curtis e
Kurt Cobain, Renato Russo torna-se assim um mito
do rock brasileiro. Verdadeiramente um mito, até
porque Renato escolheu morrer sem adeus. Ausência
de velório, ausência de enterro, ausência de
corpo. Recusou fãs chorando sobre o caixão,
celebridades transitando com olhar compungido,
aquela fila anônima engarrafada no cemitério...
recusou, em suma, seu último palco. Mas isso tudo
importa menos. A última mensagem de Renato
Manfredini Jr. é exatamente sua morte privada. A
imagem que ele deixa, ou fez questão de deixar,
é a de um ídolo que literalmente se transforma
em cinzas. Os fãs haverão de sentir a falta de
enterro, velório, cadáver... mas essa foi
exatamente a opção de Renato. Os anos haverão
de criar uma mitologia a respeito. Renato Russo não
morreu, dirão alguns, como já disseram de tantos
outros. Afinal, Renato não estourou a cabeça
como Kurt Cobain nem expôs sua luta perdida como
Cazuza. Renato apenas morreu sua morte privada. Na
televisão, não haverá imagens senão do
passado, dos clips do Legião ou de sua carreira
solo. Algumas entrevistas lá e cá com amigos, músicos,
celebridades. Como ele mesmo disse: "Quero
que as pessoas que se preocupam comigo se danem,
quero que elas se preocupem com a minha música".
A Legião Urbana, enfim, continuará prevalecendo.
Como sempre prevaleceu.
10. UMA
OUTRA ESTAÇÃO
O fim da
Legião Urbana foi anunciado então, dia 22 de
outubro pelos parceiros Dado e Marcelo,
acompanhados do empresário da banda, Rafael
Borges. "É impossível continuar",
contou Dado. "Eu e o Marcelo podemos até
fazer coisas juntas, mas não será a Legião",
continuou, dizendo ainda que "Não existe
Legião Urbana sem Renato Russo". E mais:
"Nós perdemos o nosso irmão mais velho
(...) Fazíamos tudo juntos." Nestes 12 anos
de gravadora EMI-Odeon, a Legião reuniu muito
material inédito. Finalmente, no dia 18 de julho
de 1997, foi lançado o último álbum em estúdio
da banda: "Uma Outra Estação". Este álbum
traz 14 canções algumas inéditas para os fãs
da Legião e outras que não entraram em "A
Tempestade" (ou "O Livro Dos Dias")
e mais a vinheta Schubert Lander. As músicas
escolhidas para estarem em "Uma Outra Estação"
foram as seguintes: Riding Song, Uma Outra Estação,
La Maison Dieu, Clarisse, A Tempestade, Matar ou
Morrer, Comédia Romântica, Dado Viciado, Os
Marcianos Invadem A Terra, Antes Das Seis, Mariane,
Travessia do Eixão (cover de uma banda de Brasília
da época do início da Legião, a Liga Tripa),
Sagrado Coração e As Flores do Mal. Todos os
vocais, exceto o de Riding Song são de Renato
Russo e trata-se de um álbum menos depressivo que
o anterior. Dado e Marcelo acertaram todos os
detalhes finais para a conclusão do álbum, que
trouxe ainda participações especiais como as de
Renato Rocha (Negrete), que no dia 11 de abril
daquele ano tocou um contrabaixo na gravação de
Riding Song, a música que abre o disco. Ainda
mais: Bi Ribeiro (dos Paralamas) também participa
deste disco tocando contrabaixo em duas músicas:
Antes das Seis e Travessia do Eixão. Participaram
também deste disco o Carlos Trilha, tecladista
preferido de Renato e Tom Capone, guitarrista
amigo do Dado e produtor de rock.
11. MAIS DO
MESMO
Coletânea
com os maiores sucessos da Legião Urbana lançada
no mês de março de 1998, abrangendo a totalidade
da carreira da banda, incluindo músicas de todos
os discos. A ordem da seleção é: Será, Ainda
é Cedo, Geração Coca-Cola (Legião Urbana);
Eduardo e Mônica, Tempo Perdido, "Índios"
("DOIS"); Que País é Este, Faroeste
Caboclo (Que País é Este); Há Tempos, Pais e
Filhos, Meninos e Meninas (As Quatro Estações);
Vento no Litoral (V); Perfeição, Giz (O
Descobrimento do Brasil); Dezesseis (A
Tempestade); Antes das Seis (Uma Outra Estação).
Este disco
em apenas 20 dias de vendagem alcançou a marca
das 380 mil cópias. Não possui nenhuma versão
inédita, e é uma boa oportunidade para quem não
conhece o trabalho da Legião em escutar sobre
tudo o que se discute e se venera nesta e em
tantas outras páginas espalhadas pela Internet.
Uma peculiaridade sobre o disco é que
inicialmente Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos
eram contra este lançamento, fato que ocorreu
somente por uma insistência muito grande da
gravadora EMI. Porém, a condição imposta foi
que o disco fosse vendido apenas no período de um
ano e que não entrasse em catálogo.
Outros
materiais disponíveis como gravações ao vivo,
shows piratas e Acústico MTV devem ser lançado
até o ano 2000. Para este último a previsão é
ainda o ano de 1998, no mês de outubro. Uma outra
das possíveis gravações é a do último show da
Legião no Rio de Janeiro, realizado em 1994 no
Metropolitan.
Acabou a
Legião Urbana, um grupo que com suas músicas e
letras representava o retrato da juventude. Mas a
vida continua. Continua a obra, continuam as músicas,
e continuam as lembranças. Definitivamente a Legião
estará na memória de todos.
Viva a Legio Urbana.
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